:: bolha de sabão ::

... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes

30.9.02


PUNK KITTENS - They rock!!



Muito boa a entrevista da Costanza na TPM. Aliás, a revista está massa.

24.9.02



DJ STRIKE: não sobra ninguém na pista
Sim, esse é o apelido que eu ganhei na festa da firma. :-)



20.9.02


Which era in time are you?

19.9.02

Não dá mais para ficar identificando influências em novas bandas/artistas. É um vazio só. Mais do que a falência da música, é preciso decretar a falência do método de ouvir e escrever sobre música. Chega do artifício cientificista, século 19, de ficar dissecando sons e identificando uma guitarra x, uma batida y... Por isso não há nada mais o que dizer. Instala-se um name-dropping que só faz sentido para quem tem exatamente as mesmas referências ou então uma suposta 'linha evolutiva" de uma coisa que não sai do lugar. Lembrei dos cut-ups. Não importa como são feitos, nem de que são feitos, mas seu resultado final. Será que dá para tentar a síntese? Será que dá para descobrir sensações em vez de desconstruir, analisar? Por que assim vc se torna uma espécie de legista da música e acostuma-se, de fato, a lidar apenas com cadáveres.


"Bridget não está apenas em busca desesperada por alguém com quem possa ter uma relação estável", retrucou Fielding, irritada. "Ela está dividida entre fantasias sedutoras de Brad Pitt pondo a louça na máquina, nu e com o corpo coberto de óleo, e a realidade de conviver com um homem real".

... o drogado, ao menos, sabe o que lhe falta.

17.9.02


Minha pequena resenha para Sha Sha , do Ben Kweller
Aos 20 anos, o americano Ben Kweller fez um álbum de power pop com uma salada de influências que inclui de Pavement ao atualmente onipresente Velvet Underground, de punk a Elton John. O repertório mistura músicas inéditas com canções do CD independente Freak Out, It´s Ben Kweller. Melodias, refrões grudentos e guitarras, muitas guitarras, alternam-se com momentos calminhos. Kweller abre o álbum com “How It Shoud Be (Sha Sha)”, uma declaração de faço-o-que-bem-entender. “Lizzy” é um folk de amor, só voz e violão. “Commerce TX” é uma mistura de grunge e Weezer. E os fãs de Stephen Malkmus deverão adorar “Harriet´s Got a Song”.

16.9.02

"No contexto do Romantismo, nenhum texto pode ser mais ''autoral'' do que o que ficou inacabado. Ausente do seu resíduo literário, o autor (ou sua lenda) se torna o parâmetro mais importante, seja para o estabelecimento textual, seja para a interpretação crítica. Parâmetro sempre discutível: e através dessa discussão entre críticos e filólogos o autor ''revive'' indiretamente, pois está mais presente diante do próprio texto do que se permanecesse vivo de fato. Há uma expressão inglesa que define muito bem o fenômeno: conspicuous by absence. O poeta morto aos 20 anos tem uma presença imaginária garantida justamente pela ausência.
(...)
Como escreveu Antonio Candido, ''se a obra de um clássico prescinde quase por completo do conhecimento do artista que a criou, a dos românticos nos arrasta para ele''. Não só porque o Romantismo leva o culto e a elaboração da subjetividade individual a um grau sem precedentes, mas também porque ele faz da vida e da trajetória pessoal de um poeta uma das fontes principais da legitimidade dos seus poemas. Não que a poesia busque um fundamento retórico além do discurso: é a vida que passa a ser organizada como narrativa, discursivamente.
(...)
Viver, para o romântico, já é escrever. E a biografia (vida em discurso) vem alimentar não tanto a ''inspiração'' da poesia quanto a sua credibilidade. Mesmo a ocorrência da atividade poética, figurada como rompante, passa a ser tomada como ''evento'' biográfico: supõe-se que o poeta tem um ''acesso'' quase sobrenatural às fontes brutas e sublimes da inspiração, num lance de ''entusiasmo'' individual e fora de controle. O efeito retórico decorrente, como escreveu João Adolfo Hansen, é a ''invisibilidade da forma'': o poema quer parecer informe, como se fosse o resíduo imediato de uma experiência-limite."
De A Lira dos 150 Anos - sobre reedição crítica de Álvares de Azevedo

Jeffrey Eugenides, autor de Virgin Suicides, finalmente lança segundo livro:

"Middlesex"
Eugenides's first novel, ''The Virgin Suicides'' (1993), was a dreamy, slender book about the gulf in understanding between the adolescent boys in a Michigan suburb and the five daughters of a strict Roman Catholic couple living in their neighborhood. The boys fill that gulf with romantic obsession, a beast that thrives in a vacuum, and the girls, stricken with a fatal loneliness, die by their own hands like a bevy of unlucky fairy tale princesses. ''Middlesex'' may be an entirely different sort of book -- it's longer, more discursive and funnier, for a start -- but it's equally preoccupied with rifts. There's the gap between male and female, obviously, but also between Greek and WASP, black and white, the old world and the new, the silver spoon and the sluggish sperm. Finally, there is the tug of war between destiny and free will -- an age-old concern of Greek storytellers, as every college freshman learns, reborn in the theories advanced by evolutionary psychology.

11.9.02

BEMBOSZOO

10.9.02

Deuses Americanos - Neil Gaiman

A maior virtude de Gaiman é seu amor pelo simbólico, pelo arquetípico, pelo mitológico e seus signficados ocultos e fundamentais. Sua cosmologia tem lugar para todos os panteões, até os há muito esquecidos. Neste Deuses Americanos, trata exatamente do esquecimento, da substituição dos deuses primitivos pelas criações da sociedade capitalista, como a TV e o cartão de crédito. Mas ainda assim os deuses de Gaiman não estão mortos. Lutam para reaver suas hecatombes, transformam-se em anomalias, escroques, bêbados e trapaceiros. Outros acomodam-se como possível em atividades que lhes caem menos mal - como o chacal egípcio transformado em coveiro/legista. Easter, a festa pagã, muda-se para a sempre hippie San Francisco etc etc. Mas de fato ainda acho que ele obtém um resultado melhor, mais impactante nas narrativas em quadrinhos. Falta ao texto o delírio visual que tem, por exemplo Dream Hunters - ilustrado por Yoshitaka Amano.

A seqüela do amor segundo Barnes - Arthur Dapieve sobre Amor, etc

Aliás, uma pulga: essa vírgula não deveria existir no título. E ela está também no original, em inglês - tão gramaticalmente incorreta quanto.É só uma vírgula, oras - não deve ter significado algum. Mas será que não é uma pausa depois do jorro de sentimentos provocado pela primeira palavra do título? Ou somente um typo? Será que é só para dar ênfase à enumeração, pra mostrar que o amor é apenas uma entre tantas coisas?


8.9.02


There´s no Other Way - Blur
Made of Stone - Stone Roses remix de 808 State
Crystal - New Order
Ray of Light - Madonna
Get Ur Freak On - Missy Elliot

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Connection - Elastica
Heart of Glass - Blondie
Cannonball - Breeders
Lovefool - Cardigans
Twiggy, Twiggy - Pizzicato 5

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Sugar Kane - Sonic Youth
Fell In Love With a Girl - White Stripes
Someday - Strokes
Hate to Say I Told You So - Hives
Molly´s Lips - Nirvana

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meus 3 setlists para a festa da firma.


4.9.02

Máquina de Pinball - Clarah Averbuch

Texto-videoclipe, se é que isso significa alguma coisa. Curtinho, 76 páginas, pouco mais de uma hora para ler. O tema é intensidade (juvenil). Como bem escreveu o Haroldo no Estadão, autor-personagem. Ponto de discussão: o papel do sexo. E a palavra que não sai da minha cabeça é carência. Clichê (meu), mas tenho lá minhas razões. Já de cara ela deixa bem claro que "precisa de novidade constante". Apaixona-se com a mesma frequência que a NME descobre a nova grande banda de rock. Então fica claro que não estamos falando de amor. Mesmo rejeitando dinheiro, trabalho e a rotina do cara que "sai de casa às 6h47 com a pasta de couro, pega o metrô" etc etc, ela não escapa de um padrão de consumo frenético e vazio. Mas o consumo é de sexo, de "colo", de paixões. A ingenuidade (juvenil) está em achar especial o cara que gosta das mesmas coisas que ela e que visitou o hotel que o John Fante morou. O que há de especial nisso? É só espelho. Não há o outro. Não existem individualidades em conflito. Só um eu que se projeta. E há a ressaca - de bebida, de uma festejada autocomiseração: "Sou mesmo uma idiota, adolescente descontrolada que fez a maior merda, a coisa mais errada, escolhida inconscientemente a dedo para tornar tudo mais difícil e irreversível e dolorido, porque o drama me move, me mexe, me empurra para frente ou pro lado ou pra cima ou pra onde quer que eu tenha que ir." Mas eu gostei bastante, principalmente da escrita, do fluxo do texto, do encadeamento de frases, do ritmo. Mas discordo de que a riqueza esteja no realizar exacerbado, no tudo agora sem concessões, sem amanhã, sem reflexão que é parte do coração do livro.

1.9.02

Amor, etc - Julian Barnes

"Mme Wyatt - O que eu desejo? Bem, já que sou uma velha - não, não interrompa - já que sou uma velha, eu só tenho o que Stuart chama de soft feelings. Essa foi uma boa expressão, não? Eu quero pequenos confortos para mim mesma. Eu não quero mais nem amor nem sexo. Prefiro uma roupa bem cortada e um filé sem osso. Quero um livro escrito com um bom estilo e que não tenha um final triste. Quero trocar gentilezas e conversas curtas com amigos que eu respeito. Cada vez mais eu quero menos. Está vendo, eu só tenho soft feelings.
(...)
Mme Wyatt - Então, eu convenci você com o meu pequeno discurso sobre "soft feelings", sobre não desejar coisas, querê-las apenas para os outros? Deixe-me explicar-lhe isto. Os velhão são muito bons em velhice, é uma habilidade que eles aprendem. Eles sabem o que você está esperando deles e lhes dão o que você espera. O que eu desejo? Eu desejo, ardentemente e sem cessar, ser jovem de novo. Eu detesto a minha velhice mais do que detestei qualquer outra coisa na minha juventude. Eu desejo amor. Desejo ser amada. Desejo sexo. Desejo ser abraçada e acariciada. Desejo trepar. Desejo não morrer. Também desejo morrer dormindo, repentinamente, e não morrer como minha mãe, gritando por causa do câncer, os médicos incapazes de controlar sua dor, até que resolvem dar-lhe morfina para matá-la, e então ela se calou. Eu desejo que minha filha saiba que eu sou muito mais diferente dela do que ela poderia imaginar, que eu a amo sempre, mas que nem sempre gosto tanto dela assim. Eu também desejo que o meu marido, que me traiu, sofra por isso. Às vezes eu vou à igreja e rezo. Não sou crente, mas rezo para que exista um Deus e que na outra vida o meu marido seja castigado pro ser um pecador. Eu quero que ele queime no inferno no qual eu não acredito.
Então, como você vê, eu também tenho "hard feelings". Você é muito ingênuo a nosso respeito, os velhos."



Esse livro é um achado. O ponto central é o triângulo amoroso - Stuart - Gillian - Oliver. Num primeiro livro de Barnes, o triângulo se forma e se resolve temporariamente. Gillian casa-se como Stuart e pouquíssimo tempo depois conhece o amigo do marido, Oliver, apaixona-se, divorcia-se e casa novamente. Dez anos depois, eles se reencontram - Stuart volta dos EUA para a Inglaterra (o romance se passa em Londres - Barnes é inglês) bem-sucedido porém ainda obcecado.

Os personagens dirigem-se diretamente ao leitor. Contam suas partes da verdade (ou suas mentiras) numa interação com um espectador que sabe mais dos fatos do que eles. Respondem perguntas, voltam a temas, como se cada um entrasse num confessário secular. Aliás, os capítulos são temas explícitos já no título: querer, consolo, sedução (não uma ave-do-paraíso), preservativos, amor, etc.

A dualidade Oliver - Stuart é calcada na oposição entre aquele que aceita e aquele que nega o peso da vida social (aqui entendida como poder, seja profissional, amoroso). Stuart, o homem pragmático que americaniza-se e vira um empreendedor dos alimentos orgânicos contra Oliver, o artístico e filosófico, que despeja ironia e citações, exemplar de algo que se entende como inglês por excelência. Violência (obsessão) e depressão são os motores, respectivamente.

Gillian, a mulher, é a dissimulada - mesmo e principalmente para o leitor. Retratada como a doce manipuladora e como o mistério. É impressionante como a mulher é algo como uma válvula, um mecanismo de provocar e aliviar tensões, uma peça de engrenagem de uma máquina a vapor.

Há também a comida: os alimentos orgânicos que enriqueceram Stuart, os porcos anoréxicos e estressados, o vegetarianismo de Sophie, o Pluto cat, os risottos e frittatas, os caranguejos-das-pedras, como um temas recorrente em todo o livro, servindo de metáfora, de fábula de La Fontaine na narrativa. E a constante crítica de Oliver à literatura, à arte, ao saber contido nos ditados, nas histórias morais.