:: bolha de sabão ::

... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes

29.3.04

Citações musicais e literárias em Panis et Circensis aqui

28.3.04

"Não há território interior no dominío cultural: ele está inteiramente situado sobre fronteiras, fronteiras que passam por todo lugar, através de cada momento seu (...). Todo ato cultural vive por essência sobre fronteiras: nisso está sua seriedade e importância; abstraído da fronteira, ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre."
(Questões de literatura e de estética - a teoria do romance - Mikhail Bakhtin)

21.3.04

Eu preciso andar pra longe pra chegar perto. Só indo embora, na distância, converto em forma sensível, palpável, visível, risível. Esse é um adjetivo novo na minha palheta que se acostumou aos tons de cinza, à abúlica ausência de cor. Minha forma é espiral. Palavras em circunlóquio, dando voltas em si mesmas até desmaiarem de vertigem, borrando o senso – mancha de café no fundo da caneca pra prever o futuro. Vi meu sonho na noite passada. Duas crianças, uma branca e uma negra, nascendo rápido e sem dor da minha barriga. Nascendo grandes, aos 7 anos de idade, com olhos arregalados e pretos. Olhando pro mundo com cara de espanto. E eu no parque de diversões querendo brindar à sorte, agradecer ao calor da máquina que gira, gira, gira... mais quente que a carne da criança olhando pra mim e perguntando: "E o mundo, o que é?". Mentira. Mas assim é fácil demais. Porque a resposta eu só dei aqui, usando uma palavra que não nasceu de mim. Um sonho é o mundo, como já se disse em delírios de redondilhas arcaicas e versos elisabetanos. Ornamento que faz doer e gozar, roda da fortuna escrita nos astros da boca do estômago. Paranóia nonsense, ideal de felicidade, conflito de desejos, a batalha de Tânatos e Eros travada ali no canto da cozinha, na água escorrendo do chuveiro, no travesseiro caído atrás da cama. Um vômito grosso, pútrido. Meu corpo está encrustrado de pus seco, com sua beleza ocre e dolorida em padrões geométricos variados como fractais. Visão intrincada de mim mesma, embaçada pela fina casca da vida.