:: bolha de sabão ::

... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes

29.1.03


Herchcovitch faz desfile-baile dos anos 1950 no SPFW
E eu quero uma camiseta de Branca de Neve.

28.1.03

Saiu de casa
De terno tropical,
Camisa creme,
Lenço e gravata igual.
Jantou e saiu, satisfeito,
Pra antes da meia-noite
Morrer com um tiro no peito.

Cravo Branco | Paulo Vanzolini em Acerto de Contas.


This time, however, the act of theft is so deliberate and heavy-handed that the resulting book feels like a dogged, mercenary rewrite meant to showcase Mr. Self's voyeuristic fascination with drugs, rough sex and wretched excess and his penchant for easy moralism.
Michiko Kakutani, no NYT, sobre Dorian, de Will Self

25.1.03

Acabei o Estado de Sítio. Mais umas citaçõeszinhas...

O CORO

Ao mar! Ao mar! O mar há de nos salvar. Ele não quer saber das doenças e das guerras, já viu e acobertou muitos governos! Quer apenas oferecer as manhãs vermelhas e as tardes verdes e, ao longo da noite, bater incessantemente suas águas debaixo do céu estrelado!
Oh! Solidão, deserto, batismo de sal! Ficar só diante do mar, contra o vento, rosto ao sol; libertado, enfim, das cidades lacradas feito tumbas, e das caras transidas pelo medo. Depressa! Depressa! Quem me libertará do homem e seus terrores? Eu estava feliz no apogeu do ano, largado entre frutas, a natureza sempre igual, e o bem-amado verão. Amava o mundo, era a Espanha e eu. Mas já não escuto o barulho das ondas. Aqui, os clamores, o pânico, o insulto e a covardia; aqui, meus irmãos carregados de suor e angústia, agora fardos pesados demais para se arrastar. Quem me devolverá aos mares do esquecimento? Quem me devolverá a água calma do alto-mar e seus caminhos? Ao mar! Ao mar antes que as portas se fechem!


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A PESTE

(...) Suas alegrias simples me horrorizam; este país, onde se pretende ser livre sem ser rico, me horroriza. Tenho as prisões, os carrascos, a força e o sangue! Esta cidade será arrasada e, sobre seus escombros, a história vai agonizar no silêncio das sociedades perfeitas. Silêncio, ou arrebento com tudo

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(da orelha)

E como se comportar quem não acredita em Deus nem na razão? A saída está na arte e no humanismo obstinado.

Na narração de Camus, o personagem está longe de ser irônico, cínico ou relativista. A respiração, a tensão, a poesia e a controlada dramaticidade da voz do escritor não deixam dúvidas: Meursault é um herói trágico. FSP


24.1.03

"Journeys are a matter of leaving, not arriving"

Woolf in chic clothing
Resenha "culturalista", falando mais da vida (do abuso sexual à frigidez e ao esnobismo) do que da obra.

23.1.03

Norman Mailer Ruminates on Literature and Life

21.1.03


Aprender a nadar


Lendo a introdução do Estado de Sítio, de Albert Camus, conheci a expressão "tragédia moderna", uma das aspirações do autor com essa peça.

"No entanto, se nos ativermos a uma distinção que ele fizera três anos antes, não se imagina como Estado de Sítio pode ser uma tragédia: 'A tragédia difere do drama ou do melodrama. Esta me parece ser a diferença: as forças que se enfrentam na tragédia são igualmente legítimas, igualmente armadas de razão. No melodrama ou no drama, ao contrário, apenas uma é legítima. De de outra maneira, a tragédia é ambígua, o drama, simplista.' O que há de menos legítimo e, apesar da terrificante racionalidade que move sua máquina, de menos armado de razão que o totalitarismo? Antes de fazer essa distinção, Camus deu uma pincelada histórica da Antiguidade até nossos dias para mostrar como as raras grandes épocas da tragédia (de Ésquilo a Eurípides, de Shakespeare a Corneille) correspondem a estes momentos em que o indivíduo se levanta contra as 'formas cósmicas de pensamento, muito impregnadas pela noção do divino e do sagrado', 'mundo antigo do terror e da devoção'. Supondo (o que se sustentaria facilmente) que os totalitarismos do século 20 tenham usurpado, ao colocá-las a seu proveito, as noções de divino e de sagrado, o espectador de Estado de Sítio pode temer que, como advertiu sinistramente a Peste antes de se retirar, a ordem contra a qul Diego alcança, em benefício de sua cidade, uma vitória provisória, não é a de um 'mundo antigo', mas a do futuro. (...) Camus não escreve uma tragédia, mas uma peça em que se manifesta uma forma de trágico, a originalidade de Estado de Sítio se mantendo na forte realidade de uma coletividade unida por um temor comum, animada por cenas de rua e levada, pela aparição de um cometa ou pela presença do vento e do mar, às dimensões do cosmos (...) Estado de Sítio surge como um novo fracasso no caminho das tentativas de Camus de fundar uma 'tragédia moderna'.

17.1.03

Vem comigo no meu barco azul,
Vou te levar,
Pra navegar,
Nos rios da Babilônia



Voluptas, uma das três graças da Primavera, filha de Eros e Psiquê

15.1.03

"Quero deixar claro que não foi a impotência que me levou a me tornar um recluso. Pelo contrário. Eu já vivia escrevendo na minha cabana de quarto e sala na serra de Berkshire havia cerca de um ano e meio quando, após um check-up rotineiro, recebi um diagnóstico preliminar de câncer de próstata e, um mês depois, tendo realizado mais exames, fui a Boston para ser operado. O que estou dizendo é que, ao vir para cá, eu havia deliberadamente mudado minha relação com a ciranda sexual, não porque os estímulos ou minhas ereções tivessem sido muito enfraquecidos pelo efeito do tempo, mas porque eu não conseguia mais suportar as exigências que ela me fazia, não tinha mais a astúcia, a força, a paciência, a ilusão, a ironia, o ardor, o egoísmo, a resistência - nem a dureza, nem a esperteza, nem a falsidade, nem a dissimulação, nem a duplicidade, nem o profissionalismo erótico - necessários para enfrentar a multiplicidade de significados enganadores e contraditórios da sexualidade. Assim, pude atenuar um pouco o choque do pós-operatório, quando me dei conta de minha impotência irreversível, dizendo a mim mesmo que tudo o que a operação fizera fora me obrigar a levar a cabo a renúncia que eu já havia assumido voluntariamente. A cirurgia não fizera mais do que tornar definitiva uma decisão que eu havia chegado por conta própria, sob a pressão de toda uma existência marcada por envolvimentos, quando porém gozava de uma potência integral, vigorosa e inquieta, quando a compulsão masculina de repetir o ato - repetir, repetir, repetir - ainda não fora atenuada por problemas fisiológicos.

Foi só quando Coleman me falou sobre sua vida e sua Voluptas que todas as ilusões confortadoras a respeito da serenidade obtida pela renúncia consciente se dissiparam, e perdi meu equilíbrio por completo. Passe a noite em claro até bem depois de o dia nascer, incapaz de controlar meus pensamentos, como se fosse um louco, hipnotizado pelo outro casal, comparando aqueles dois com meu próprio estado de anulação. Nessa noite de insônia, nem sequer tentei me impedir de reconstruir em minha mente a "audácia transgressora" da qual Coleman se recusava a abrir mão. E agora eu encarava o episódio da dança, em que eu fora conduzido, como um eunuco inofensivo, por aquele homem ainda potente e cheio de vida, ainda participando da loucura, como algo muito diferente de uma autogozação bem-humorada.

Como dizer "não, isso não faz parte da vida" sabendo que não é verdade? A sexualidade, essa contaminação redentora que desidealiza a espécie humana e nos lembra constantemente de que não passamos de matéria."

***

"Nada dura, e no entanto nada passa, tampouco. E nada passa justamente porque nada dura."


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"O que faz desaparecer a camuflagem, o disfarce, o esconderijo? Isto: a palavra certa pronunciada de modo espontâneo, impensadamente."



(trechos de A Marca Humana - Philip Roth)


Odeio o ácido lático. E tenho dito.

14.1.03


22. PI
GRACIOSIDADE (BELEZA)

Este hexagrama mostra um fogo que irrompe das misteriosas profundezas da terra e cujas chamas ascendem iluminando e embelezando a montanha, as alturas celestiais. A graciosidade, a beleza da forma, é necessária em toda união para que esta se realize de modo ordenado e agradável, e não desordenado e caótico.

12.1.03

"Sempre foi minha opinião que, quando um homem se propõe com determinação a fazer alguma coisa e não pensa em nada além de seu desígnio, deve ter sucesso apesar de todas as dificuldades em seu caminho: uma dessas pode transformá-lo em papa ou grão-vizir, ele pode derrubar uma antiga linhagem de reis -desde que saiba aproveitar sua oportunidade e seja um homem de tino e pertinácia. Para ter êxito, deve-se contar com a fortuna e desprezar todo fracasso, mas é uma operação das mais difíceis."

Casanova, após o terremoto em Lisboa, citado em Lisboa Reinventada

7.1.03


Depois do duplo, o grande tema que me apareceu pela frente foi a defesa da individualidade via manipulação da identidade em fuga das pressões sociais. E tudo por conta de dois caras: Coleman Silk, o protagonista de A Marca Humana (Philip Roth) e o nosso ministro José Dirceu. Os dois viveram um segredo - obscurecendo por anos a fio sua identidade para ter uma inserção social tranquila e legítima.

Kill Bill, o novo filme do Tarantino, podia bem se chamar "gostosas assassinas". Pelo jeito, vai estar cheio de minas bonitonas manejando enormes espadas afiadas e espalhando sangue pelos quatro cantos da tela.