:: bolha de sabão ::

... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes

30.10.02

29.10.02

'Genius': The Hall of Fame - O NYT sobre o livro de Harold Bloom



Os neoconservadores da literatura

Quando eu era pequena, bem pequena mesmo, ficava muito feliz quando meu pai chegava da fábrica. Por volta das 5 da tarde, ele voltava. Às vezes, eu ficava sentada em cima do muro lá de casa, de banho tomado, esperando meu pai. Era ótimo por que ele sempre chegava com um sorriso, me pegava pelos braços e levantava lá no alto. Meu pai sempre foi muito protetor. Era pro colo dele que eu fugia quando fazia arte. Mas lembro também dele sempre cansado, muito cansado de fazer hora-extra todo dia nos últimos 25 anos da sua vida. Todos eles na mesma fábrica, em São Bernardo do Campo.


Linha de montagem
(Chico Buarque/1980)

Linha linha de montagem
A cor a coragem
Cora coração
Abecê abecedário
Opera operário
Pé no pé no chão

Eu não sei bem o que seja
Mas sei que seja o que será
O que será que será que se veja
Vai passar por lá

Pensa pensa pensamento
Tem sustém sustento
Fé café com pão
Com pão com pão companheiro
Pára paradeiro
Mão irmão irmão

Na mão, o ferro e ferragem
O elo, a montagem do motor
E a gente dessa engrenagente
Dessa engrenagente
Dessa engrenagente
Dessa engrenagente sai maior

As cabeças levantadas
Máquinas paradas
Dia de pescar
Pois quem toca o trem pra frente
Também de repente
Pode o trem parar

Eu não sei bem o que seja
Mas sei que seja o que será
O que será que será que se veja
Vai passar por lá

Gente que conhece a prensa
A brasa da fornalha
O guincho do esmeril
Gente que carrega a tralha
Ai, essa tralha imensa
Chamada Brasil

Samba samba são Bernardo
Sanca são Caetano
Santa santo André
Dia-a-dia diadema
Quando for, me chame
Pra tomar um mé

28.10.02

Apesar de essa situação estar mudando desde os anos 80, Machado de Assis ainda não desfruta mundo afora do prestígio que merece. Que um crítico com a qualidade e a fama de um Bloom o inclua entre os cem maiores talentos literários de todos os tempos - numa lista que vai de Homero a Octavio Paz, de Shakespeare a Paul Celan - ajudará certamente. Ainda mais porque diz, entre outras coisas: "O gênio da ironia nos deu poucos equivalentes a esse afro-brasileiro Machado de Assis, que me parece ser o supremo artista literário negro até hoje. (...) Machado de Assis é uma espécie de milagre".

Um cético divertido, que desequilibra os leitores
Machado de Assis, por Harold Bloom


:-)

25.10.02

A melancolia mudou de cor. Desde que saiu Sea Change, o novo disco de Beck Hansen, ela é cor de rosa, cor de crepúsculo e também de aurora, de fim e de começo. "Put your hands on the wheel / Let the golden age begin". É uma era de desolação, pontuada por estradas, desertos e mares de tristeza, desorientação, nostalgia.
Beck chora dolorido com a gaita, grandiloquente com as cordas, dissimulado com os sintetizadores, às vezes tudo numa única canção.
Lonesome Tears é preciosa na síntese do disco, com seu andamento emocionante para as cordas, alternando-se entre o depressivo, o trágico e a ponta de esperança que surge como única força. A voz, porém, mantém o tom desiludido, comedido, não-exposto.
“Lost Cause” é a derrota. Ponto. Mas ainda estamos na metade do disco.
A delicadeza é a maior virtude do álbum. Não são mãos cirúrgicas, são feridas ardendo de leve, lenta e constantemente. É preciso delicadeza.
Os ventos começam a mudar de direção em “Round the Bend” com sua evocação do movimento das ondas e o violão de Beck marcando o tempo. Seu hippiesmo extravasa em “Sunday Sun”, com banjo indiano e uma tentativa de psicodelia.
Em “Little Ones”, ele já fala de um amanhã: “Go to sleep / We´re so tired now” e depois “New days / To throw your chains away”. Mas nada é apoteótico aqui. Beck termina sua viagem com “Side of the Road”. Completou sua jornada no inferno: “Something better than this / Someplace I´d like to go / To let all I´ve learned / Tell me what I know”.


El Embrujo de Shangai é um filme doce. Um filme sobre cinema que se passa num momento político de opressão - a ditadura franquista. E o cinema é sim um ópio para os que ficaram, órfãos da guerra se reconstruindo aos poucos. Há um filme noir dentro do filme, projetado da cabeça do menino protagonista a partir do roteiro oral de um mestre do engano. Apesar dos olhos puxados dos atores do filme dentro do filme, ele é todo, inteiro americano, igualzinho aos cartazes das fitas que são exibidas no cinema de uma Barcelona cheia de velhos, mulheres e meninos. O velho louco, anticlerical e subversivo é o que há de mais espanhol. Mas ele é velho, está louco. Resiste ainda trancado num escritório escondido, cuja porta é uma passagem secreta, eco dos tempos de luta. Ele é tão velho, obtuso, obsoleto, que morre em paz, sentado no meio da praça.

15.10.02

14.10.02



10.10.02

Minha viola vai pro fundo do baú
Não haverá mais ilusão
Quero esquecer
Ela não deixa
Alguém que só me fez ingratidão

No carnaval
Quero afastar
As mágoas que meu samba não desfaz
Pra facilitar o meu desejo
Guardei meu violão
Não toco mais

[Paulinho da Viola]

9.10.02

Essa tecnologia anti-pirataria da EMI não é só ridícula como burra também. Basta colocar o CD pra tocar, que o computador trava. Idiotas.

8.10.02

Palavra descoberta:
Kakistocracia - o governo dos piores

5.10.02





2.10.02

One Hundred Albums You Should Remove from Your Collection Immediately
Dica do querido Rafa

1.10.02

Sobre a Dor Feminina de Existir

Will Self e Chuck Palahniuk