:: bolha de sabão ::

... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes

20.1.04

O gangsterismo como fundamento do estilo de vida norte-americano, eufemisticamente justificado pelo vocabulário capitalista e iluminista, ou ilustrado, como prefere Tom Edison Jr. O pressuposto não é novo, como quase nada no filme de Lars von Trier. Mas e quem precisa de novidade, essa obsessão do mercado de consumo? Certamente não o diretor dinamarquês, que procura a estética do teatro na tela, tão comum nos primórdios da televisão. Nem mesmo a câmera tremida, empunhada por ele, que já foi transgressora em diversos momentos do cinema mundial. Trier recorre ainda a outros elementos da tradição do "storytelling", cara à literatura e ao cinema dos EUA. O tom otimista e moral da narração, principalmente quando sobreposto a imagens bárbaras, é uma das chaves de entendimento da ironia que o cineasta despeja sobre o mito norte-americano. Pq aquelo texto é puro exemplo de ironia moderna (ou pós-moderna, sei lá), que anda me perseguindo atualmente. A ironia romântica não é para ser entendida. Ela é a impossibilidade da representação do real e do entendimento, certo? Mas o moderno arrasa ainda mais com a idealização de um real que subsistiria por trás dessa impossibilidade. E não sei se é o filme ou sou eu que ando tentando ver as coisas por essa perspectiva ainda nova, incontida para mim. A ironia sempre me intrigou, sua pose de salvação única da condição do homem. Ás vezes me parece tanto o contrário, mas acho que eu carrego fortemente uma idéia de moral que não combina nada com essa perspectiva.

Puxa, bateu uma saudade de escrever aqui! Acho que ninguém mais visita essa paginazinha, a não ser por algum acidente de percurso, busca mal-sucedida ou algo assim. Escrevendo sobre música de novo. Bubblegum, Brill Building e mais dezenas de outros exemplos do pop descartável do fim dos 60 início dos 70. O que me deixa feliz, depois das discussões travadas nas férias desafiando a tal supremia da produção musical desse período tão excepcional principalmente para os que o viveram. Claro, sem xiitismo (antifondazionalismo, diria alguém). Mas é que eu gosto de lembrar dessa falta de vergonha comercial da música pop para quem ainda idealiza a transgressão do mundo do rock (sim, eu não vejo muitas distinções entre um e outro em termos do 'de onde viemos', 'quem somos' e 'para onde vamos').