O gangsterismo como fundamento do estilo de vida norte-americano, eufemisticamente justificado pelo vocabulário capitalista e iluminista, ou ilustrado, como prefere Tom Edison Jr. O pressuposto não é novo, como quase nada no filme de Lars von Trier. Mas e quem precisa de novidade, essa obsessão do mercado de consumo? Certamente não o diretor dinamarquês, que procura a estética do teatro na tela, tão comum nos primórdios da televisão. Nem mesmo a câmera tremida, empunhada por ele, que já foi transgressora em diversos momentos do cinema mundial. Trier recorre ainda a outros elementos da tradição do "storytelling", cara à literatura e ao cinema dos EUA. O tom otimista e moral da narração, principalmente quando sobreposto a imagens bárbaras, é uma das chaves de entendimento da ironia que o cineasta despeja sobre o mito norte-americano. Pq aquelo texto é puro exemplo de ironia moderna (ou pós-moderna, sei lá), que anda me perseguindo atualmente. A ironia romântica não é para ser entendida. Ela é a impossibilidade da representação do real e do entendimento, certo? Mas o moderno arrasa ainda mais com a idealização de um real que subsistiria por trás dessa impossibilidade. E não sei se é o filme ou sou eu que ando tentando ver as coisas por essa perspectiva ainda nova, incontida para mim. A ironia sempre me intrigou, sua pose de salvação única da condição do homem. Ás vezes me parece tanto o contrário, mas acho que eu carrego fortemente uma idéia de moral que não combina nada com essa perspectiva.
:: bolha de sabão ::
... rascunho, bloco de notas, palavras para as paredes
20.1.04
Puxa, bateu uma saudade de escrever aqui! Acho que ninguém mais visita essa paginazinha, a não ser por algum acidente de percurso, busca mal-sucedida ou algo assim. Escrevendo sobre música de novo. Bubblegum, Brill Building e mais dezenas de outros exemplos do pop descartável do fim dos 60 início dos 70. O que me deixa feliz, depois das discussões travadas nas férias desafiando a tal supremia da produção musical desse período tão excepcional principalmente para os que o viveram. Claro, sem xiitismo (antifondazionalismo, diria alguém). Mas é que eu gosto de lembrar dessa falta de vergonha comercial da música pop para quem ainda idealiza a transgressão do mundo do rock (sim, eu não vejo muitas distinções entre um e outro em termos do 'de onde viemos', 'quem somos' e 'para onde vamos').